domingo, 25 de outubro de 2009

A direita quer criminalizar os movimentos sociais


A direita faz campanha feroz para criminalizar os movimentos sociais. Tem como aliado fiel a imprensa corporativa. Globo, Veja, Estadão etc. é a tropa de choque que usa o poder do monopólio da comunicação para desinformar e tentar convencer a multidão de que estes movimentos praticam atos de vandalismo.

Os trabalhadores rurais em sua luta diária pela sobrevivência têm no MST uma ferramenta de organização que luta pela reforma agrária. Não fosse esta entidade estariam sem perspectiva, sem vez e sem voz, jogados nas periferias das metrópoles submetidos à miséria e à violência do crime organizado, ou tendo que sujeitar-se ao trabalho em regime de escravidão, como é prática em muitas fazendas neste Brasil.

As grandes redes de televisão fizeram a festa com as imagens de um trator utilizado pelos integrantes do MST que ocuparam a fazenda da Sucocítrico Cutrale no interior de São Paulo. A mídia foi taxativa em classificar a derrubada de alguns pés de laranja como ato de vandalismo.
Tiveram o cuidado de omitir uma informação fundamental: que esta área, chamada Núcleo Monções, possui 30 mil hectares. Destes, 10 mil hectares são terras públicas reconhecidas oficialmente como devolutas e 15 mil hectares são terras improdutivas.

Esta área é ocupada ilegalmente pela Cutrale, onde plantou 1 milhão de pés de laranja.
Para garantir o plantio de feijão, arroz etc., alimentos necessário para seu consumo diário, os integrantes do MST que ocuparam a área, passaram o trator em 0,7% do laranjal.
Não há nenhuma prova de que a suposta destruição de máquinas e equipamentos tenha sido obra dos sem-terra.

Esta área, por ser pública, foi prometida pelo INCRA aos sem-terra. Mas aí o problema é a burocracia para liberar a área, ainda mais com a influência que a monopolista Cutrale possui junto ao governo. Sem pressão talvez isto nem aconteça.

Tendo conhecimento destas informações, percebemos que a rebeldia dos sem-terra é uma reação a opressão a qual estão submetidos.

O problema é que na ótica dos setores dominantes, arrancarem pés de laranja em protesto é mais doído que a situação das famílias que vivem em acampamentos precários, nas margens das rodovias, por não terem terras para produzir alimentos.

Estes setores muitas vezes vão às vias de fato, como foi o massacre de Eldorado dos Carajás, onde foram assassinados 19 camponeses que lutavam para garantir o pão para seus familiares. Para eles, pés de laranja e boi são mais importantes que camponeses que querem terra para trabalhar.

Todos os anos são dezenas de assassinatos que acontece pelo Brasil por causa do conflito pela terra. Os trabalhadores não podem perder a esperança, cabe à maioria dos brasileiros o apoio à luta pela reforma agrária, que é justa.

A direita não perdeu tempo. Diante das imagens, encaminhou pela segunda vez no Congresso Nacional a abertura de uma CPI para investigar o financiamento do MST, dado que na primeira tentativa havia sido frustrada.

Querem na realidade alcançar dois objetivos:

1-Criminalizar o MST. Mas este movimento sensibiliza a maioria dos brasileiros. Não podemos deixar de apoiar a luta de quem quer trabalhar mas não tem terra para tal em um país continental. Temos ainda o dado de que quem produz os alimentos que consumimos são os pequenos produtores : quem produz arroz, feijão, farinha, etc. não é o agronegócio.
A preferência do agronegócio é a soja, quase 100% direcionada para exportação. Ou ainda a cana-de-açúcar, onde as condições de trabalho são noticiadas como uma das mais precárias neste país. Ou ainda o Eucalipto, que degrada a terra e é um verdadeiro deserto verde. O agronegócio, que o presidente Lula tanto ama, tem a inaceitável característica de ser altamente concentrador de renda, gerador de desigualdade social. Não podemos voltar aos tempos coloniais, onde a característica do Brasil por vários séculos foi ser exportadora de produtos primários. O processo de industrialização iniciado no governo Getúlio Vargas, passando por Juscelino Kubitschek etc. apesar de vários problemas, é o que permite o Brasil ter hoje uma economia robusta.

2-Impedir a revisão dos índices de produtividade agrícola. A versão em vigor tem como base o censo agropecuário de 1975. Com tal postura, o foco do debate agrário é deslocado dos responsáveis pela desigualdade e concentração para criminalizar os que lutam pelo direito do povo. Os novos indicadores demonstram, que apesar dos avanços técnicos, boa parte das grandes propriedades não é tão produtiva como seus donos alegam. Sendo assim, estariam disponíveis para reforma agrária segundo a legislação em vigor.

Conforme o Censo Agrário do IBGE, nos últimos dez anos a concentração fundiária aumentou. As pequenas propriedades estão diminuindo. Enquanto as propriedades com menos de 10 hectares ocupam menos de 2,7% do espaço total, os estabelecimentos rurais com mais de mil hectares concentram mais de 43%.

É preciso uma agricultura altamente moderna e socialmente justa, onde os trabalhadores do campo possam se associar para garantir a soberania alimentar e com o excedente, eliminar a desigualdade social.

Renomados intelectuais brasileiros e de outros países lançaram um manifesto em defesa do MST, convocando todos para um amplo movimento contra a criminalização das lutas sociais, realizando atos e manifestações políticas que demarquem o repúdio à criminalização do MST e de todas as lutas no Brasil.

Então mãos à obra. Esta é tarefa de todos os brasileiros que lutam contra as injustiças sociais.


Carlos Lopes
Microempresário, economista formado pela PUC-SP, membro do PSOL-Imperatiz. Outubro/2009