sexta-feira, 20 de maio de 2011

O processo de produzir mais-valia*

Desde o século XIX o capitalismo é a forma dominante nas relações de produção.

Em postagem anterior, fizemos breve comentário como o dinheiro se transforma em capital. Ficou no ar a dúvida como é gerado o mais valor que faz o capital crescer como uma bola de neve.

Vamos fazer breve comentário sobre este processo e tentar entender o que Marx decifrou.

Quando o capitalista vai ao mercado com dinheiro, compra mercadoria e troca novamente por dinheiro, no processo D – M – D’(onde D = dinheiro; M= mercadoria; D’= Dinheiro acrescido do lucro obtido com a venda da mercadoria). Esta movimentação tem um único objetivo: obter lucro.

De onde vem então este valor a mais?

O capitalismo é um modo de produção voltado a produzir mercadorias. Na realidade a mercadoria só camufla a essência, pois o objetivo real é gerar mais valor extraindo mais-valia da força de trabalho.

A força de trabalho se diferencia de todas as outras mercadorias pelo fato peculiar de gerar o que o capital tanto almeja: mais-valia.

Para que a mercadoria, força de trabalho, exista, é fundamental uma série de condições mas a principal é que existam trabalhadores despojado de qualquer outro meio de vida a não ser a venda de sua mercadoria: a força de trabalho. Estes trabalhadores devem ter liberdade para vender a quem quiser sua mercadoria.

Para produzir mercadorias, cujo único objetivo é obter lucro, o capitalista compra a matéria prima, prédios, maquinário, tudo o que é necessário no processo de produção. No caso da produção de sapatos, vamos supor que o capitalista compra couro e maquinário.

Além de matéria prima e maquinário, precisa contratar a força de trabalho. Em comum acordo com o trabalhador, contrata a força de trabalho por R$ 40,00 a diária.

Fato importante é que este valor corresponde ao necessário para o trabalhador repor suas energias e ter forças e ambiente de vida para todos os dias estar trabalhando. Quando está em seu posto de trabalho, precisa apenas de 4 horas para gerar o valor de R$ 40,00(admitimos aqui trabalho social).

Está aqui tudo pronto para iniciar a produção de sapatos. Vamos entrar em operação e fazer a contabilidade.

Vamos supor que para produzir um par de sapatos investiu na aquisição de couro o equivalente a R$ 60,00. Para produzir este sapato, tem desgaste do maquinário que vamos supor custe R$ 10,00.

Vamos admitir que nosso trabalhador em ½ diária transforma couro em sapatos e é o tempo que precisa para produzir o suficiente para sua subsistência, R$ 40,00. Assim podemos fechar a seguinte contabilidade:

Aquisição de couro e desgaste do maquinário = R$ 70,00; (60,00 + 10,00)
½ diária para transformar couro em sapato ............= R$ 40,00
Valor do sapato.......................................= R$ 110,00

Vamos então ao mercado. O valor do sapato é R$ 110,00. Sendo assim o capitalista não consegue um centavo de lucro. Investiu R$ 110,00 e conseguiu ter como retorno R$ 110,00.

Mas é justamente aqui onde está o pulo do gato.

O trabalhador vendeu sua força de trabalho ao capitalista pelo valor combinado e o suficiente para sua subsistência. Vendeu pelo valor de troca, onde outros trabalhadores também estavam dispostos a fazê-lo nas mesmas condições.

Supomos que o capitalista paga R$ 40,00 pela jornada diária do trabalhador. Destacamos que o trabalhador precisa apenas de 4 horas de produção para repor os R$ 40,00 que corresponde ao valor combinado da diária.

Ao vender sua força de trabalho, o trabalhador assumiu o compromisso de executar a diária em uma jornada de 8 horas. Assim o capitalista pode utilizar esta mercadoria, a força de trabalho, da forma que achar mais produtiva neste intervalo, pois o valor-de-uso desta mercadoria lhes pertence neste período.

Produzindo apenas um par de sapatos o capitalista não conseguiu obter lucro.

Vamos ver o que acontece quando produz dois pares de sapatos:
Investimento em couro = 2 x 60,00 = 120,00
Desgastes de maquinário = 2 x 10,00 = 20,00
1 diária para transformar couro em sapatos = 40,00 (mesmo valor para produzir um par)
Total investido....................................= 180,00

É importante observar que o trabalhador continua recebendo o mesmo valor da diária produzindo um, dois ou mais sapatos neste intervalo. O que produz além dos R$ 40,00 é de propriedade do capitalista. O capitalista contrata a força de trabalho exclusivamente para se apropriar desta riqueza excedente.

Já sabemos que o valor do par de sapatos é R$ 110,00. Assim dois pares correspondem a R$ 220,00. Para produzir dois pares de sapatos o capitalista investiu apenas R$ 180,00. Conseguiu seu objetivo, lucrou R$ 40,00. Finalmente o dinheiro se transformou em capital. A bola de neve do capital segue o modelo D – M – D’.

Este é um retrato simplificado da lógica que rege o modo de produção capitalista. A Questão está esclarecida: aqui quem gera mais valor e possibilita o acumulo de capitais é a mais-valia gerada pela dedicação do trabalhador. O capitalista só teve lucro porque se apropriou da riqueza excedente gerada pela força de trabalho.

Na próxima oportunidade comentaremos com mais detalhe a mais-valia.


*O Capital – Karl Marx- Livro I Volume 1 - PP 220 a 231 – Ed. Civilização Brasileira – 25® Edição