quinta-feira, 28 de abril de 2011

Transformação do dinheiro em capital*.

É comum achar que dinheiro e capital são sinônimos.

Esta questão é estudada em “O Capital”, obra principal de Karl Marx.

Referenciado em Marx vamos fazer uma resumida análise.

Quando recebemos nosso salário e vamos ao supermercado comprar pão, feijão, arroz, carne, etc., não tenha dúvida que estamos lidando com dinheiro.

Vendemos nossa força de trabalho que é uma mercadoria, em troca recebemos salário na forma de dinheiro e com este dinheiro compramos o necessário para nos alimentar e o que for básico para nossa vida.

Temos aqui o processo que representamos com M – D – M, onde M quer dizer mercadoria e D, dinheiro. Partimos da mercadoria, trocamos por dinheiro e finalizamos com a compra de outras mercadorias para satisfazer nossas necessidades. Quando finalizamos o processo, comprando mercadorias temos como objetivo seu valor-de-uso.

Em uma economia camponesa o processo é similar. O camponês satisfaz boa parte de suas necessidades em sua relação com a natureza. Ao trabalhar pessoalmente na terra, dela extrai boa parte dos alimentos que consome. Como precisa de algum complemento, leva parte de seu excedente como feijão, mandioca, etc. à feira, troca por dinheiro e compra café, açúcar, sal, óleo etc. Algo que sobra no bolso não tem outro objetivo a não ser comprar algo que lhes tenha valor-de-uso. Não tenhamos dúvida que esta movimentação só utiliza o dinheiro para satisfazer ao que é necessário à existência conforme o modo de vida. Nestas condições, o dinheiro não tem outra utilidade a não ser meio de troca para adquirir valor-de-uso.

Permanece então o esquema M – D – M, onde o M final tem como objetivo seu valor-de-uso.

Vamos analisar agora a forma onde o dinheiro se transforma em capital.
Aqui o processo parte do dinheiro. Temos o dinheiro acumulado de alguma forma e pretendemos que aumente seu valor. Para conseguir o aumento de seu valor o que podemos fazer?

Pegamos o dinheiro, vamos ao mercado comprar mercadoria com o único objetivo de revender com valor maior e realizar o que desejamos: ter lucro. Esquematicamente temos:

D – M – D’.

É importante observar que aqui não temos nenhum desejo de consumir a mercadoria, mas o único objetivo de revendê-la com lucro. O que nos interessa aqui é o valor-de-troca da mercadoria, o valor a mais que obteremos na transação.

Vamos definir que compramos um par de sapatos por R$ 100,00 e revendemos por R$ 110,00. Obtivemos lucro de R$ 10,00. Retornamos ao mercado e repetimos esta operação enquanto obtiver lucro. Não tenhamos dúvida que neste caso o dinheiro se transformou em capital. Ter dinheiro, comprar mercadoria para vender e obter mais dinheiro. Este é o papel do dinheiro como capital.

Mas surge uma curiosidade. De onde sai este valor a mais, onde é produzida esta riqueza?

Imaginemos que tenha no mercado camisas cujo valor unitário seja também R$ 110,00. Como meu sapato vale R$ 110,00 o certo é trocar apenas um par de sapatos por uma camisa. Mas vamos admitir que na esperteza eu consiga que o dono da camisa concorde em fazer a troca e me devolver R$ 10,00. Como camisa mais sapato somam R$ 220,00, nesta operação o dono da camisa perdeu R$ 10,00 e ganhei R$ 10,00. No total a riqueza não alterou o valor. Apenas o que para um foi prejuízo, para o outro foi lucro, no total os valores permanecem R$ 220,00.

Caso a lógica da sociedade seja esta, não haverá acréscimo de riqueza e no dia que todos forem espertos não poderá haver ganhador, pois todos estão armados com o conhecimento para não serem enrolados. Aí ninguém vai conseguir fazer troca dando prejuízo ao outro. Sem ganhar valor a mais,ninguém irá fazer uso de seu dinheiro como capital.

Mas no mundo real acontece o contrário. É desejo unânime de quem tem dinheiro acumulado, usá-lo como capital para obter lucro.

Onde está o segredo deste negócio? De onde surge este valor a mais em uma relação de compra e venda de mercadorias?

No próximo capítulo vamos analisar de onde surge o mais valor.

*O Capital – Livro I Volume I - Karl Marx – PP 177 “1. A FÓRMULA GERAL DO CAPITAL – Ed. Civilização Brasileira Edição 25ª.

Um comentário:

  1. Gostei muito do post, sou aluna de economia e você colaborou muito para a minha prova de economia política, obrigada!

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